QUARTA-FEIRA, 18 DE ABRIL DE 2012
Tucano [ordenado por Sérgio Guerra] arranca cartaz pró-CPI da porta do gabinete de Protógenes Queiroz
A CPI mista do Cachoeira nem começou mas já pega fogo nos bastidores – em especial, nos corredores da Câmara. Um roteiro com ingredientes de cena policial ganhou o sétimo andar do Anexo 4 da Casa. Indignados com um cartaz pró-CPI na porta do gabinete do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), ex-delegado da PF e entusiasta da instalação, dois deputados tucanos o arrancaram da porta e jogaram no chão, irados. Trata-se de ninguém menos que o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Protógenes só soube quando pediu à Polícia Legislativa o vídeo do circuito interno de TV do corredor. Mas não prestou queixa à Mesa Diretora.
Procurada pela coluna, a assessoria de Guerra ainda não se pronunciou.O deputado Marinho reconheceu que tirou o cartaz e disse que foi um “ato político”, e que isso aconteceu há algumas semanas, embora Protógenes tenha tido acesso aos vídeos ontem. Lamentou que os deputados colem nas portas cartazes “de ataques institucionais”, como o que considerou o do deputado comunista.
A Privataria Tucana, maior escândalo de corrupção da história brasileira.
Tem início a década de 90. A ideologia do neoliberalismo, formulada pelo Consenso de Washington começa a infestar os governos do mundo, e seus resultados podem ser acompanhados hoje, mais de 20 anos depois, com a destrutiva crise econômica mundial, que desde 2008 joga países inteiros na bancarrota. Faz, porém, um estrago bem maior nas frágeis economias da América Latina. A Nova Ordem Mundial, assim batizada pelo então presidente norte-americano George Bush, teve nas privatizações de empresas estatais a sua maior bandeira. No Brasil, Fernando Collor falhou em levar adiante o projeto das classes dominantes. Coube a Fernando Henrique Cardoso e sua turma do PSDB fazer o trabalho sujo das privatizações a partir de 1995, com todo o apoio da imprensa. Mas eles não sairiam disso de mãos vazias. Não bastasse a sujeira que foi o modelo de privatização à brasileira — uma mera entrega do patrimônio público aos amigos empresários — vários tucanos de alta penugem e seus familiares estiveram envolvidos em fraudes na composição dos consórcios que disputavam as empresas estatais, bem como em recebimento de propinas, evasão de divisas e corrupção. É essa história que é contada em todos os detalhes e com farta documentação no livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Pra você que ainda não leu o livro, vai começar aqui o relato do maior escândalo da história recente brasileira. A partir de hoje, passadas as festas de fim de ano, o Rama na Vimana traz os fatos mais importantes contidos no trabalho de 10 anos de investigação do jornalista. Os fatos que serão narrados em capítulos aqui não são fáceis de digerir, nem é uma leitura agradável aos olhos, mas trata-se de um serviço de utilidade pública e plena confiança na política e na Justiça do nosso país, que não podem deixar todos os crimes cometidos pelos membros do PSDB impunes. Vamos aos fatos.
RELEMBRANDO O ESCÂNDALO DAS PRIVATIZAÇÕES BRASILEIRAS
“É preciso dizer sempre, e em todo lugar, que este governo não retarda privatização, não é contra nenhuma privatização e vai vender tudo o que der para vender”
Fernando Henrique Cardoso
Fazendo um levantamento em cartórios de títulos, CPIs e Juntas Comerciais, Amaury Ribeiro conseguiu reunir dezenas de documentos que atestam todas as afirmações contidas no livro e que serão relatadas aqui. Primeiro vamos relembrar alguns dados sobre as criminosas privatizações brasileiras.
Desde 1995, Fernando Henrique Cardoso dava continuidade ao programa federal de desestatização. De fato, nenhuma empresa, a priori, estava a salvo de ser repassada ao controle privado dos consórcios que, como veremos, foram montados de forma teatral com dinheiro público para favorecer os amigos dos tucanos.
Em 1999, havia um plano para privatizar os bem sucedidos Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Num memorando de 8 de março do mesmo ano, no item que trata da “venda de componentes estratégicos”, podia-se ver estampada a intenção do governo FHC: “transformações das duas instituições em bancos de segunda linha”.
Para conseguir convencer a opinião pública brasileira de que vender patrimônio da União era o melhor que se podia fazer, a imprensa, esta velha aliada dos interesses das classes dominantes, martelou nas cabeças das pessoas a campanha difamatória contra tudo que fosse empresa e serviço público. As estatais foram transformadas em monstros inúteis que deveriam ser curados, transmutados em belos príncipesnas mãos dos empresários amigos. “Era preciso preparar o clima para vender as estatais”. Muita gente, até hoje, cai nessa conversa.
Em vez das maravilhas prometidas pelo governo e amplificadas pelas manchetes da imprensa, a verdade é que o Estado teve sua dívida aumentada, porque para tornar as empresas mais atraentes para os futuros donos privados, o governo usou dinheiro público para, pouco tempo antes das privatizações, investir em melhorias, coisa que a população sempre exigiu mas que nunca recebeu do governo. Quando FHC fez, foi pra vender.
As tarifas dos serviços públicos foram sofrendo progressivos reajustes, para que as empresas privatizadas se tornassem lucrativas e para que o ônus dos aumentos ficasse sobre o governo, não sobre elas. No caso das tarifas telefônicas — serviço sempre lembrado pelos privatistas e seus ingênuos defensores como exemplar — o valor subiu 500 por cento desde 1995 e é hoje uma das mais caras do planeta. Ah, mas pelo menos hoje, todo cidadão tem o direito de pagar essa tarifa…
Outros casos ajudam a ilustrar o que foi a inacreditável entrega do patrimônio público no governo PSDB:
CASO CSN:
Dos R$ 1,05 bilhão pagos pela CSN, maior siderúrgica da América Latina, o total deR$ 1 bilhão era formado por moedas podres (cujo valor de mercado é bem inferior ao valor nominal). O que entrou de fato nos cofres públicos foi a vergonhosa bagatela de R$ 38 milhões.
CASO FEPASA:
Antes de privatizar a Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) Mario Covas do PSDB demitiu 10 mil funcionários e fez o contribuinte de São Paulo assumir os custos dos 50 milaposentados da empresa.
CASO BANERJ:
O ex-governador tucano do Rio de Janeiro, Marcelo Alencar, faz algo ainda mais absurdo. Privatizou o Banerj, “doando-o” ao Itaú por 330 milhões de Reais. Antes, demitiu 6,2 mil funcionários do banco estadual. Por conta disso, ele precisava de dinheiro pra pagar todas as indenizações, aposentadorias e o plano de pensões dos servidores. Foi então que pegou um empréstimo de 3,3 bilhões de Reais, dez vezes mais do que arrecadou vendendo o banco! Dez vezes? Na verdade vinte vezes mais, porque o Estado do Rio só recebeu R$ 165 milhões. O resto era formado de moedas podres com metade do valor de face.
O resultado dessa brincadeira toda é que no ano de 1998 o Governo do PSDB e a imprensa oligárquica alardeavam que as privatizações haviam arrecadado RS 85,2 bilhões. Só que o jornalista econômico Aloysio Biondi denunciava em seu famoso livro Brasil Privatizado, que para arrecadar essa soma, Fernando Henrique Cardoso teve que gastar R$ 87,6 bilhões em investimentos, indenizações, etc. Ou seja, na verdade, nós pagamos para vender nossas empresas.
Esses foram alguns exemplos da farra das privatizações. Estes dados não são novos, e não faria sentido relançá-los agora. Porém, o livro de Amaury Ribeiro é muito mais do que isso: ele traz a denúncia de como membros do PSDB e seus familiares enriqueceram durante as privatizações, através de propinas e operações financeiras em paraísos fiscais. É o que vamos ver na próxima postagem.
Fonte: http://ramanavimana.blogspot.com.br/2012/01/privataria-tucana-maior-escandalo-de.html
Ricardo Sérgio de Oliveira mostra aos tucanos como lavar dinheiro sujo
Dando sequência no relato de enriquecimento ilícito, propinas, corrupção e entrega do patrimônio público baseado no livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, vamos agora mostrar como foi montado todo o esquema, que envolvia a abertura de empresas em paraísos fiscais para trazer dinheiro lavado do exterior. Também vamos mostrar quem era o homem forte das privatizações no governo do PSDB que montou o esquema da lavagem de dinheiro: o ex-tesoureiro das campanhas a presidente de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira.
CORRUPÇÃO, PROPINAS E LAVAGEM DE DINHEIRO
Um paraíso fiscal é atrativo porque tem poucas taxas e poucos impostos, mas o principal motivo que as pessoas têm para depositar dinheiro em lugares como esse, é o anonimato garantido. Lá, as empresas têm o tamanho de uma mera caixa postal, e as contas em bancos não identificam os donos a não ser por uma série de números. É o lugar preferido para a lavagem de dinheiro sujo. Para isso, basta abrir uma empresa de fachada, conhecida como offshore, cuja finalidade é movimentar o dinheiro do narcotráfico, da corrupção, de propinas, etc sem que se descubra sua origem.
O modus operandi dos fraudadores e corruptos consiste em abrir uma offshore num desses paraísos fiscais, para receberem depósitos com procedência desconhecida. Então abrem outra empresa no Brasil, que vai receber o dinheiro vindo da offshore, disfarçado como “investimento” de uma empresa estrangeira em outra nacional. Curiosamente, o que acontece com frequência é uma mesma pessoa assinar nas duas pontas do negócio: como procuradora da empresa estrangeira e como dona da empresa nacional que vai receber o “investimento”. Fraude na certa. Essa processo é apenas e tão somente o retorno, devidamente lavado, do dinheiro sujo da corrupção, que estava hibernando no paraíso fiscal.
RICARDO SERGIO DE OLIVEIRA, TESOUREIRO DO PSDB, INVENTA O ESQUEMA
“Na hora que der merda, estamos juntos desde o início”
Ricardo Sergio de Oliveira a Mendonça de Barros
Desde que começaram as investigações, o jornalista Amaury Ribeiro notou que muitos tucanos e seus parentes usaram o mesmíssimo método narrado anteriormente. Quem mostrou a eles o caminho das pedras foi o ex-tesoureiro das campanhas de Serra e FHC, Ricardo Sergio de Oliveira (imagem acima).
Localizada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, o Citco Building é o escritório encarregado de lavar dinheiro sujo através das offshores. Esta instituição ajudou muitos tucanos e seus familiares a repatriar propinas das privatizações. Dentre eles, Verônica Serra, filha de José Serra; seu marido Alexandre Bourgeois;Gregório Marín Preciado, casado com uma prima de Serra; o próprio tesoureiro do PSBD e outro figurões do partido, conforme veremos no último post dessa série. Amaury Ribeiro relata:
Todos mandaram dinheiro para o mesmo escritório [o Citco Building]. A grande maioria enriqueceu pós-privataria… Uma década depois da avalanche privatista, são proprietários de empresas no Brasil e no exterior, possuem gordas contas bancárias, moram em mansões e são donos de terras.
Como colegas do Citco das Ilhas Virgens, este distinto grupo da alta sociedade de tucanos paulistas tem outras pessoas, digamos, “menos distintas”, como João Arcanjo Ribeiro, chefão do crime organizado do Mato Grosso; o traficanteFernandinho Beira-Mar e o corrupto presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Todos eles colegas de escritório.
Ricardo Sergio foi o grande arquiteto dos consórcios que disputaram o controle das empresas estatais que foram privatizadas no governo FHC. Foi indicado em 1995 por José Serra para dirigir a área internacional do Banco do Brasil (BB), o que facilitou o seu trânsito em meio às maiores fortunas do país. Do seu gabinete ele articulava a participação do banco e dos fundos públicos em consórcios privados dos amigos. Ou seja, “dinheiro público financiava a alienação de empresas públicas”. Depois de vencidos os leilões, as empresas vencedoras expressavam sua gratidão através de propinas e de financiamento das campanhas eleitorais do PSBD. E aí que entravam as offshores.
Dois pequenos exemplos ajudam a ilustrar essa promiscuidade:
PROPINA PARA VENDER A VALE
Em 1997 o empresário Benjamin Steinbruch, diretor do grupo Vincunha, arrematou a Vale por 3,3 bilhões. A empresa foi privatizada de forma criminosa: atribuiu-se valor zero às suas imensas reservas de minério de ferro, capazes de suprir a demanda mundial por 400 anos. O consórcio de Steinbruch contava com o aporte de dinheiro da Previ, fundo de pensão dos funcionários do BB. A influência de Ricardo Sergio foi fundamental, e sem a sua ajuda, o consórcio não venceria. Qual foi o custo dessa mãozinha amiga? Segundo o próprio Steinbruch, “R$ 15 milhões em propinas em nome de tucanos”.
PROPINA PARA VENDER A TELEBRÁS
Em 1998, o megaempresário Carlos Jereissati (imagem acima), irmão do ex-senador tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) venceu o leilão de privatização da Telebrás. Através do consórcio Telemar, ele adquiriu a Tele Norte Leste. Por conta disso, Ricardo Sergio recebeu propina de Carlos Jereissati através da Infinity Trading, com sede nas Ilhas Cayman, de propriedade de Jereissati, que depositou US$ 410 mil em favor da Franton Interprises, de Ricardo Sergio, no MTB Bank.
No próximo e último post, vamos ver como a sujeira, a corrupção e a lavagem de dinheiro vai chegando cada vez mais perto do ex-governador paulista e ex-candidato a presidente do Brasil, José Serra, através dos seus familiares.
Fonte: http://ramanavimana.blogspot.com.br/2012/01/ricardo-sergio-de-oliveira-mostra-aos.html